terça-feira, 17 de abril de 2012

Não Mexa no meu Lixo!

É, eu sou uma pessoa má. Não quero que ninguém mexa no meu lixo.

Mas creio que, até o final desse texto, vou conseguir, ao menos, justificar-me. Talvez até fazer você concordar comigo que a violação do seu lixo é algo errado.

Primeiramente, meu motivo egoísta: Eu não gosto da zona que os "recicladores" fazem, quando estão procurando o "material" de seu sustento. Complicado, amigo, mas muitos rasgam sacolas, espalham o lixo e, não o bastante, deixam revelados nossos hábitos de consumo.

Um embasamento legal: Todos temos direito à privacidade. Eu sei, isso é meio esquisito falar. Ainda mais chamar de "direito", no país que mais consome Big Brother e afins, no mundo. Mas nem todos querem ter suas intimidades devassadas, o tempo inteiro. 

Ok, pode rir. 

Vou te dar uns minutinhos, para rir.

O texto continua aqui, em baixo. A hora que parar de rir, é só prosseguir.

Sim, há pessoas que não querem suas vidas nos noticiários. Que recusam a fama. É por isso que os ganhadores de Loterias não divulgam seus nomes, sabe? se o mundo souber de sua sorte, pode lhe trazer muito azar.
Ex-presidiários podem querer esconder seu passado, para criarem novas vidas, sem estigmas.

Não acredita nesse direito, ainda? Olha um trabalho excelente que eu tive o prazer de ler, hoje:

Demais, né?

Bem, mas você vai me dizer que o reciclador tem que viver. Por isso, como já estamos jogando fora, mesmo, porque não ajudá-lo, né?

Convenhamos, amigos: Ser catador de papel não é objetivo de vida de ninguém. O problema é que é uma "carreira fácil". Basta sair à rua e parar de lixeira em lixeira. Qualquer um pode fazer. Não é necessário estudo, especialização, grandes ferramentas, processos de seleção refinados ou aguentar patrões e metas. 

E qual é a minha crítica, nisso? Simples!

Estimular esse tipo de atividade é só mais uma das "soluções elegante" do Estado, que não provê o básico para a população e, assim, remenda a vida das pessoas.
Essas pessoas conseguem levar uma sub-vida, com esse ofício. E, como "vão levando", não se preocupam em buscar algo a mais. Se acostumam com a vida, dessa forma. Estagnam. Geram um cinturão de pobreza, em todas as cidades.
É mais ou menos como a história da vaquinha, conhece?

Conta-se que um mestre e seu discípulo peregrinavam em uma região muito pobre e pediram pousada em um humilde casebre. O dono da casa recebeu-os cordialmente e desculpou-se por não poder oferecer mais do que uma xícara de leite. Explicou que toda a sua alimentação dependia de uma magra vaquinha, cujo leite era uma parte consumido e em parte trocado por outros alimentos, na cidade. E assim sobrevivia a família, em uma indizível penúria. No dia seguinte, despediu-se o mestre e, ao afastar-se da casa, viu a tal vaquinha, pastando mansamente, à beira de um barranco. Ordenou ao discípulo: "Empurre a vaca no barranco". O discípulo, mesmo sem entender, obedeceu e a pobre vaquinha estatelou-se, morta, no fundo do barranco. O mestre deu-se por satisfeito e seguiram a viagem. Anos se passaram, sem que o discípulo esquecesse aquela família e se recriminasse por ter sido, talvez, o carrasco de seu destino.Um dia, quando seu mestre já havia morrido, o discípulo voltou àquela região e procurou o casebre onde morava a família. Encontrou, em seu lugar, uma imensa casa, ricamente decorada, abençoada com grande fartura . O dono da casa se tornara um próspero comerciante e seus filhos, já homens feitos, estavam trabalhando, produtivos, felizes e saudáveis. Espantado, o discípulo indagou as causas de tão profunda mudança, ao que o dono da casa explicou: "Lembra-se da vaquinha que nós tínhamos? Ela caiu do barranco e, sem ela, nós passamos alguns dias de terrível necessidade e fome. Porém, diante da miséria, tivemos que buscar outros sustentos. Com ferramentas emprestadas por vizinhos, sementes conseguidas com promessas de dividir as colheitas e muito esforço, fomos crescendo e o resultado é esse que você vê. Então, finalmente, o discípulo entendeu a sabedoria de seu falecido mestre. 

Desculpe, mas desumano é prover esse tipo de vida a um ser humano e sua família, e achar que está tudo certo, que está tudo bem.

Mas você vai dizer que o trabalho dos recicladores é fundamental. Que eles protegem a natureza, ao auxiliar na coleta de material reciclável. Que isso é algo que alguém tem que fazer.
Bem, eu já havia comentado antes, nesse post. Mas falo de novo:

Não é a latinha que você separa ou que o catador recolhe, que vai salvar o mundo. A reciclagem é um negócio milionário. Os donos dos centros de coleta e reciclagem ganham dinheiro demais. Isso porque eles quase não têm custos para adquirir sua matéria prima. Sério, o preço do quilo do alumínio, pago para os catadores, fica em média de R$1,50. Para conseguir um quilo, os catadores precisa de cerca de 70 latinhas. Não, não é fácil sobreviver disso. O quilo do Plástico custa, em média, R$0.40. E conseguir um quilo de garrafas PET é muito mais difícil.
Eles pagam pouco. O suficiente para não precisarem contratar pessoas para revirar o lixo que os caminhões trazem para o aterro. Porque isso geraria muito mais custo. 

Sim, o que parecia uma relação de trabalho benéfica e de respeito com a natureza, agora parece escravidão new-age e só mais um bom negócio, né?

Pois é exatamente assim que deve ser tratado. Os catadores, em vez de terem a carteira assinada, um salário digno, segurança financeira para cuidarem de suas famílias, ficam revirando os nossos lixos, alguns até promovendo sujeira nas nossas cidades. Essa sujeira entope bueiros, aumenta a população de pragas como ratos e baratas e, em temporais, mistura-se a água das chuvas, trazendo mais doenças. E, no final, nossos hábitos de consumo ficam escancarados para qualquer um olhar e saber o que compramos, o que gostamos e como vivemos.



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